
- Eu moro perto e às vezes venho ao supermercado dar uma volta. Agora fui telefonar à minha filha, mas ninguém atendeu… Não trato dela desde os 8 anos, por causa da doença… - retorquiu com laivos de tristeza no olhar-corpo deformado pelas drogas farmacêuticas. E, mudando de assunto, continuou: - Quando nós falámos da última vez, o sr. disse-me para eu me entreter a ler livros, mas não consigo estar com atenção… Hoje estive a arrumar a minha casa e tomei banho com água fria… sinto-me com mais força… vou passar a tomar banho com água fria.
- Se se sente com forças, ofereça-se para ajudar em alguns trabalhos, numa dessas organizações que apoiam as pessoas que precisam! – avancei, considerando que uma pequena actividade manual, sem grandes responsabilidades mas altruísta, só lhe faria bem.
- Ah, as pessoas não me ligam… se calhar por causa da doença ! - atalhou ela, taxativa, franzindo a testa.
E na despedida, atirou: - Mas eu gosto muito de falar consigo!
E eu lembrei-me de ter aprendido algures que o maior insulto que se pode fazer a uma pessoa é ignorá-la, isto é, negar a sua própria existência.
Ideia válida... até mesmo para os “loucos!”!
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