REGRESSO AO FUTURO
No início dos anos 80 do século passado, tinha eu 27 ou 28
anos, apareceram os primeiros computadores, com tamanhos e preços acessíveis a uma
parte significativa da população… O
microprocessador tinha surgido em meados da década de 70, com a fabricação da
CPU (Unidade Central de Processamento) num único circuito integrado, permitindo
a construção de computadores pessoais, pequenos e mais baratos. Em 1980, o
inglês Clive Sinclair (que, em 1972, tinha desenvolvido uma das primeiras calculadoras
eletrónicas de bolso do mundo), lançou o computador pessoal ZX80, no ano
seguinte, o ZX81 e, em 1982, o bem conhecido ZX Spectrum, com 16 e 48 Kb…
O meu primeiro computador foi um ZX81 adaptado pela Timex
(que na altura possuía uma fábrica de componentes em Portugal) e vendido com a
designação de Timex-Sinclair 1000. Custou-me, então, se não me engano, o
equivalente a 30 €. Este computador não produzia imagens a cores nem sons e tinha
a “espantosa” memória RAM de… 1 K (hoje falamos em gigas e teras…) que podíamos
expandir para 16 K, encaixando um módulo de memória. O carregamento e gravação
dos programas era efetuado através de gravadores e cassetes de áudio. Os
programas originais vendidos pela Timex eram, na sua maioria, utilitários,
existindo poucos jogos.
Contudo, estes pequenos computadores deram origem à
“revolução” informática pessoal pois podiam ser programados por qualquer
utilizador uma vez que traziam incorporada na ROM (Memória apenas de leitura)
uma linguagem de programação, o BASIC (Código de instruções simbólicas de uso
geral para principiantes). Nessa época, milhares de jovens (e menos jovens), movidos
pela curiosidade em saber como funcionavam os computadores, começaram a fazer os
seus próprios programas utilitários, educativos, jogos, etc., a experimentar as
potencialidades destes novos equipamentos, a inovar, a inventar, a criar…
Pela
sua experiência, muitos destes primeiros utilizadores encontraram nesta área o
seu futuro profissional, nas então novas tecnologias da informação… Nas décadas
seguintes, os programas foram tornando-se mais complexos, os jogos de
computador passaram a ser realizados por equipas multidisciplinares com
orçamentos comparáveis aos dos grandes filmes…
As “novas” tecnologias da informação passaram a
ser “vendidas” e divulgadas para “consumidores” e não para criadores… Apareceram
as consolas, que não estão viradas para a programação e experimentação… As
atuais gerações passaram a ser educadas para se constituírem como utilizadores
passivos do processador de texto, da folha de cálculo, do viciante jogo…
Coloca-se,
então, a “famosa” ( e sempre atual) questão: “Que fazer?”
Alguns
professores do Laboratório de Computadores da Universidade de Cambridge
(Inglaterra) verificaram, ano após ano académico, um declínio acentuado nos
conhecimentos e experiência sobre computadores demonstrados pelos jovens que
lhes apareciam nos cursos. Nos anos 90, a maioria dos jovens eram
experimentados programadores amadores e conhecedores do funcionamento dos
computadores; no início do século XXI, quando muito, lá apareciam alguns que
tinham feito um pouco de Web Design… O modo como os jovens interagiam com os
computadores tinha mudado (para pior)! Esta
situação levou os referidos professores a pensarem, em 2006, na criação dum
computador pequeno e barato, com objetivos educacionais, que incentivasse as
crianças e jovens de todo o mundo a descobrirem o funcionamento dos computadores
e o prazer da programação.
Contudo, o
tal computador, imaginado em 2006, só seria disponibilizado em 2011, com o nome
de Raspberry Pi, cujo modelo B, versão 2, foi lançado em 2012, ao preço de
35,95 € + iva (em Portugal, apenas via internet). Este computador é um pouco maior do que um
cartão de crédito e pode ser ligado a uma televisão antiga, com entrada de
vídeo composto, ou moderna, com HDMI, permitindo, neste último caso, visualizar
vídeos em HD. O Raspberry (framboesa) pi tem um processador ARM a 700 MHz (que
se pode “apertar” até 1 GHz), um processador gráfico Broadcom Videocore IV, 512
Megabytes de SDRAM, saídas de vídeo composto e HDMI, saídas de áudio por “jack”
de 3.5 mm e por HDMI, armazenamento através de “slot” para cartão SD (armazenamento
do sistema operativo, dados e outros programas ), ligação por cabo à internet
(10/100 Ethernet RJ45), 2 portas USB 2.0 e 1 mini USB para a alimentação (pode
ser utilizado um carregador de telemóvel de 5 V e, pelo menos, 700 mA).
Para além de
pequeno e barato, as grandes vantagens deste computador residem no facto de ter
cada vez mais apoio no meio educativo, em especial o inglês, e do sistema
operativo e muitos outros programas serem totalmente grátis, pois baseiam-se no
"código aberto" Linux. Estes
programas podem ser descarregados no sítio da internet da fundação que apoia
este computador (www.raspberrypi.org) e instalados num cartão SD de 4 GB, que
custa menos de 5 €. Uma das imagens grátis para instalar no cartão SD,
aconselhadas pela fundação, é a Raspbian “wheezy”, que traz o sistema
operativo, interface gráfico (tipo “Windows”), diversos programas, nomeadamente
jogos e linguagens de programação: Python e Scratch. Python é uma linguagem de programação de alto
nível, orientada a objetos. Por seu lado, Scratch utiliza imagens e permite
criar histórias interativas, jogos, música e arte. Promove a aprendizagem de
importantes conceitos matemáticos e computacionais, incentiva o pensamento
criativo e a cooperação. De destacar que
o Raspberry Pi possui, ainda, um conjunto de ligações designadas GPIO (entrada
/ saída de uso geral) que permitem que o computador comunique com o exterior,
alargando a sua utilização educativa (útil para experiências de robótica,
domótica, automação, etc.).
O repto aqui
fica: vamos promover o conhecimento e a utilização dos computadores pelos
jovens de forma mais cooperativa e criativa ! Atenção Pais e Professores: o
projeto Raspberry Pi pode ser um bom
meio para regressarmos ao futuro!
Ligações sobre a utilização do Raspberry Pi
Crianças de
7 a 9 anos aprendem a programar com o Raspberry Pi :
www.youtube.com/watch?v=KdTwQXre1DU
www.youtube.com/watch?v=KdTwQXre1DU
O Raspberry pi na Universidade de Manchester:
www.youtube.com/watch?v=tWUbw0ED00U
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