UM RAIO DE SOL NUMA MANHÃ CINZENTA
A manhã apresenta-se cinzenta e chuvosa. A Maria, com o
guarda-chuva debaixo do braço, curvada sob o peso dos seus 87 anos e envolta na negritude da sua viuvez, caminha, apressada, pela
rua Joaquim Nunes Ferreira…
Um carro, que passa, pára junto da idosa e uma voz feminina,
mais jovem, chama “Ó Maria… Onde vais?” No rosto magro e sulcado
pela idade, surge um sorriso… “Ó ‘mor…
Vou à Casa do Povo ver se apanho
uma consulta… Mas agora na temos médico… Tenho andado doente e, se na apanhar consulta, tenho que pedir aos
meus netos p´ra me levarem ao hospital, a Santarém…” - responde
a idosa. “Anda connosco no
carro, que vais melhor e sempre poupas as pernas…” – convida a voz feminina…
E ela foi…
Com “pompa e circunstância”, a governação celebrou , há pouco tempo, o “Dia Mundial da Saúde”
… Mas a
“realidade” dos números
manipulados dos governantes
ignora e despreza a realidade (real) do dia a dia… Menos salários, menos pensões, menos saúde,
menos educação, menos habitação… é a sua política!
Dizem os jornais que
“os números do INE apontam para uma redução significativa do número de consultas médicas (menos 2,3
milhões) face a 2002”(JN, 06/04/2015)... Que bom seria se esta redução fosse
sinónimo de uma população mais saudável…
Contudo, a realidade (real) é muito diferente. Com esta
política governamental de empobrecimento e encerramento de postos médicos,
grande parte da população não tem capacidade económica para suportar os custos cada vez maiores e menos
comparticipados de medicamentos, exames, taxas moderadores e transportes…
Se não fosse aquele pequeno raio de sol de solidariedade,
teria sido, mesmo, uma manhã muito cinzenta e triste…
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