O Regato

Wednesday, August 30, 2006









PROBLEMAS E SOLUÇÕES…


PARTE I

Estava a conversar sobre informática com um amigo da direcção duma associação, quando este me disse, preocupado, que o monitor do computador da instituição não estava a funcionar bem e nada mais conseguia obter do que um ecrã totalmente negro…


Fui observá-lo de perto, apesar de não ser técnico da área…Tratava-se dum monitor antigo, daqueles com os comandos analógicos, de “rodinhas”, na parte inferior do ecrã… Certifiquei-me de que os cabos de alimentação estavam em ordem e confirmei que a electricidade chegava ao monitor, pois a luzinha sinalizadora estava acesa. Verifiquei também a ligação do monitor ao computador e... tudo bem.


- Bom, é possível que exista uma avaria no monitor ou, então, na placa gráfica do computador. Isto é equipamento já muito usado… – disse eu ao meu amigo.


- Isso é mau… Precisamos do computador e a associação não dispõe de muito dinheiro para a reparação. – respondeu o meu interlocutor.


Insisti na observação. Dei mais uma olhadela ao monitor, parei nas “rodinhas” dos comandos, experimentei o do contraste e… eis que se fez luz, isto é, imagem!


Qual avaria do monitor, qual avaria da placa gráfica… A senhora da limpeza, ao passar com o pano do pó na parte inferior do monitor, sem ter dado por isso, tinha rodado o comando do contraste para uma posição extrema… Daí o ecrã totalmente negro!

PARTE II

O ponteiro digital do rato do computador que utilizo no trabalho tem andado muito inconstante. Talvez envergonhado por se sentir exposto em permanência naquele ecrã, tem recusas momentâneas às minhas ordens manuais e, outras vezes, desloca-se de forma errante e atabalhoada… Já pensei pedir a substituição do insubmisso rato, pois deve estar avariado…


Hoje, lembrei-me que, ao contrário do rato óptico que utilizo em casa, o rato que se aconchega à minha mão no trabalho é de um modelo mais antigo e rola em cima duma bola, agarrando todo o cotão e lixo que encontra pelo caminho… Virei-o de costas e fiz-lhe uma limpeza. Remédio santo… Lá ficou ele direitinho e obediente!


CONCLUSÃO


Muitas vezes, as soluções para os nossos problemas são muito mais simples do que pensamos.


Tentemos olhar os problemas de vários ângulos e procurar as soluções com paciência.

Monday, August 28, 2006

A “LOUCA” DO SUPERMERCADO…


Foi reformada por invalidez ainda nova, na casa dos quarenta anos, por razões do foro psiquiátrico, e vagueia, muitas vezes, pelo supermercado… Talvez por causa da medicamentação, engordou, desfigurou-se…De vez em quando vai visitar os antigos colegas e diz na sua demência consciente:

- Ai, eu estava aqui tão bem, será que poderia voltar ao trabalho?... Pergunta-eco que não encontra resposta…

Um dia, reconheceu-me no supermercado e pediu-me 1 euro para telefonar à filha, que não vive com ela. As empregadas do supermercado conhecem-na e comentaram:


- Ela não precisa, pois tem uma reforma boa!


- É possível, respondi eu, mas se ela pediu …


E coloquei-lhe o euro na mão. Feliz, ela lá se perdeu entre a movimentação caótica dos restantes clientes. Não sei se telefonou ou não à filha mas, cerca de um mês depois, abordou-me novamente e, desta vez, pediu-me 5 euros… Aí eu senti necessidade de lhe perguntar pela reforma ao que ela me respondeu que alguém da assistência social lhe controlava o dinheiro e lho entregava a pouco e pouco.


Com o argumento da necessidade momentânea, fiquei convencido e lá lhe entreguei os cinco euros com a certeza de que, apesar das promessas (loucas, pensei eu) de pagamento, tratar-se-ia dum investimento “a fundo perdido”. Passadas algumas semanas, lá vem ela ter comigo e, para meu espanto, entrega-me 5 euros para liquidar a dívida!


Contudo, um mês mais tarde, a “louca” do supermercado pede-me mais 5 euros que eu entrego, desta vez sem comentários e, também, sem esperança de os voltar a ver…

O tempo passou, desencontrámo-nos, estive fora uns tempos e já me tinha esquecido do último episódio quando uma pessoa amiga se abeirou de mim, com uma nota de 5 euros, e diz:

- A “louca do supermercado” deixou-me estes 5 euros com a indicação expressa dos entregar a ti… disse-me que é para pagar uma dívida…


E pensei: Se uma “louca” respeita as suas promessas, por que razão há tanta gente dita mentalmente sã, proeminente até, que não cumpre nem os compromissos nem as promessas que publicamente faz?

Friday, August 25, 2006

MESMO À FRENTE DO NARIZ...


Estava eu, quieto e ledo, gozando a minha semaninha de férias numa pequena mas bela praia do litoral alentejano, quando um jovem casal chegou... Ele e ela, mãos dadas, apertadas, com um cachorro, saltitante, pela trela. Ele enfiou o laço da trela no mastro do chapéu-de-sol, de forma a prender o cachorro, e ambos (ele e ela, claro) depositaram as roupas e bens na areia ainda húmida, ficando apenas em fato-de-banho. Depois... zarparam à procura do fresco aconchego daquelas águas vicentinas... O cachorro tentou acompanhá-los, mas estava preso pela trela ao chapéu-de-sol. Ladrou, ladrou e... nada. De repente, o cachorro aproximou-se do chapéu-de-sol e, com as patas, começou a escavar a areia junto ao mastro metálico.

- "Boa! - pensei eu - Cachorro esperto... Assim vais conseguir a tua liberdade!"

O cachorro foi escavando e, de vez em quando, tentava ir de novo atrás dos donos, dando um esticão na trela. Tanto se esforçou que o chapéu-de-sol tombou e soltou a trela...

- "É agora... a liberdade ! "- disse eu em voz alta.

Mas, para meu espanto, o cachorro não fugiu... Deitou-se junto à trela solta e ali ficou... sem entender que a liberdade estava mesmo ali à sua frente! Até que os donos chegaram e o prenderam novamente ao mastro do chapéu-de-sol.


E fiquei a pensar... - "Quantos de nós, humanos, têm a liberdade (a beleza, o amor e outras maravilhas do mundo) à frente do nariz e não a conseguem ver e desfrutar… e muitos são azedos, sorumbáticos e clamam, clamam…por aquilo que já possuem..."

Wednesday, August 23, 2006

REGATOS

Correm, devagar, bordejados pela dócil vegetação, entre areia e pedras... escolhos dizem uns... faróis que guiam o caminho, digo eu... Regatos...

Regatos dos meus pensamentos que fluem sob as carícias da vegetação-realidade e tanto esbarram como abraçam as pedras-factos, avançando sempre no seu trilho-destino...

Destino sem fatalidade mas com um rumo, um objectivo... Crescer, chegar ao rio, ao lago, ao mar... de ideias... do sossego alvoraçado da harmonia-alegria universal. Minha, tua, de todos...

Num bocado de cortiça talhado a canivete, cravo um pauzinho onde enfio um triângulo de papel... Suavemente pousada no regato, a cortiça-que-quer-ser-barco desliza e bamboleia na corrente, embaraça-se na vegetação-realidade, choca com as pedras-factos mas não desiste e torna-se companheira inseparável do fluir dos meus pensamentos...

É apenas o início da viagem...